Uma batalha na Rota do Enxaimel

Poucos sabem hoje em dia, mas a Rota do Enxaimel foi palco de um feroz combate no século XIX.
Era dezembro do ano de 1893. A Colônia Blumenau tinha poucas décadas de existência, e os colonos morando na Rota do Enxaimel (então chamada Alto Rio do Testo) estavam ali há apenas dez ou quinze anos, na maioria. A memória da Pomerânia ainda era recente.

Local da batalha ocorrida em 1893 na Rota do Enxaimel

A República havia sido proclamada dois anos antes, e o primeiro presidente, Deodoro da Fonseca, havia abdicado em favor de seu vice, Floriano Peixoto. Como não havia cumprido metade do mandato, deveriam ocorrer eleições — o que não era o desejo de Floriano Peixoto. Essa polêmica aguçou as brigas entre duas correntes políticas: o grupo que apoiava Floriano Peixoto, os Republicanos, que defendiam um governo central forte, e os Federalistas, grupo que desejava autonomia para os estados e a deposição de Floriano Peixoto.

A revolução começou no Rio Grande do Sul, com os federalistas vencendo os primeiros confrontos, e montaram uma coluna que veio subindo pelo Brasil, com a intenção de chegar ao Rio de Janeiro (então capital do país) e depor Floriano Peixoto.

Saindo do Rio Grande do Sul, a coluna subiu pelo planalto de Santa Catarina, passando por Jaraguá do Sul rumo a Joinville. Leiamos o relato de Udo Ramlow, pomerodense membro do Conselho Curador da Fundação Cultural de Pomerode, publicado em 1999 no Correio do Povo:

“O primeiro desalojamento de tropas militares em Pomerode aconteceu em dezembro de 1893. Esta foi convocada pela Câmara Municipal de Blumenau entre todas as classes dos habitantes do Vale do Itajaí e comandada e instruída por Gottlieb Reif, oficial do exército Prussiano e, portanto, entendia de estratégias militares. Esta tropa foi convocada para fins de defesa de Santa Catarina, principalmente do Vale do Itajaí em defesa da invasão das tropas federalistas vindas do Rio Grande do Sul e comandadas pelo genoral Gumercindo Saraiva. Os federalistas não conseguiram invadir Santa Catarina pelo Sul, mas conquistaram todo o planalto e Norte até Jaraguá do Sul. Dali, planejaram conquistar o Vale do Itajaí, o Porto de Itajaí e Florianópolis, pontos dominados pelos republicanos que eram seus adversários, Sendo naquela época o Morra do Rio da Luz, a divisa entre o Norte-catarinense e Blumenau, cruzado por uma picada, a única passagem. Por isso os federalistas planejaram a invasão do Vale do ltajaí através do mencionado morro. Para quem prestou serviço militar e teve instruções do exército militar para ataques e defesa ou combater pode averiguar que os federalistas revolucionários estavam mal informados sobre as posições de defesa do Vale do Itajaí, A tropa de defesa seguiu de Blumenau para Pomerode até a localidade de Alto Rio do Testo, perto do Morro do Rio da Luz, onde o inteligente comandante escolheu a topografia do terreno para tomar a posição de defesa. Atualmente, os proprietários daquele terreno são os irmãos Rudi e Wigand Utpadel e ali, em uma pequena elevação, construíram uma trincheira enorme para dezenas de atiradores poderem tomar a posição de defesa com as suas armas. Ao mesmo tempo tinham a segurança de não serem atingidos por balas inimigas e outro abrigo individual nos flancos. Antes do Natal de 1893, os federalistas tentaram atravessar o já referido Morro do Rio da Luz, para assim invadir o Vale do Itajaí, mas quando alcançaram as posições de defesa foram detidos por um tiroteio tão forte, sendo rechaçados, não restando outra alternativa aos federalistas de recuar, e ainda assim só, tiveram uma baixa. A tropa de defesa não sofreu nenhuma baixa.”

Um relato ainda mais completo é encontrado no livro “Pomerode – Sua História, sua Cultura, suas Tradições”, compilado pela Prefeitura de Pomerode em 1985:

O COMBATE TRAVADO EM POMERODE

Aconteceu na Revolução de 1893-1895, nuvens prenunciadoras de fortes tempestades políticas amontoavam-se nos horizontes da pátria e sendo que a Colônia de Blumenau, em certas ocasiões, tentou defender os seus interesses políticos e administrativos, em consequência disso teve que enfrentar mais dois combates: o primeiro na Rua Itajahi entre Blumenau e Gaspar e o segundo em Testo Alto, divisa com Jaraguá do Sul.
Em face de uma grave divergência entre o Dr. Hercílio Luz e o Juiz de Direito no dia 16 de Fevereiro de 1893 e por questão, o comissário de Polícia Eslebão Pinto da Luz prende Manoel dos Santos Lostarda, auxiliar direto de Hercílio Luz no Comissariado de Terras. Os amigos de Lostarda com Hercílio Luz à frente, dispõe-se a ir a cadeia e soltar o companheiro.
Encontraram o comissário de polícia na rua e o interpelam. Incontinenti o mesmo sacou de um revólver e abre fogo contra o grupo com dezenas de disparos, saindo ferido o comissário de polícia refugiando-se na casa mais próxima.
Em razão dessa ocorrência, veio a Blumenau o chefe de polícia Francisco Antônio Vieira, que encontra provas no processo do procedimento criminoso de Hercílio Luz, mandando-o prender imediatamente junto com seus companheiros Bonifácio Cunha, Francisco Margarida e Santos Lostada, escoltados até a Capital do estado, onde chegaram a 3 de março de 1893.
A situação de Hercílio Luz e seus companheiros ia melhorando bastante em consequência dos desentendimentos entre o Tenente Machado (então governador do estado) e o Marechal Floriano Peixoto, aproveitando este acontecimento, recorreram ao Supremo Tribunal Federal que pôs os referidos cidadãos em liberdade.
A 8 de junho de 1893 Hercílio Luz e seus companheiros voltaram para Blumenau, onde foram muito aplaudidos e tiveram uma recepção solene. Não pararam, porém notando a manifestação política blumenauense em que se haviam envolvido, os próceres republicanos blumenauenses. Porém a 14 de julho de 1893 reuniu-se a Câmara Municipal e, em sessão solene, proclamou Governador do estado o Dr. Hercílio Luz, que prestou perante ela o juramento de estilo.
Hercílio Luz decretou imediatamente Blumenau como capital provisória do estado e, à frente de seus homens em armas, depôs o governo Machado e tomou posse do Palácio do Governo, na capital do estado.
Floriano Peixoto não concordou com tal decisão violenta, reorganizou o governo deposto de Machado e Hercílio Luz teve que fugir.

Restabelecido o governo Machado, este em seguida tratou de organizar uma companhia de 200 soldados bem equipados e armados para atacar e tomar Blumenau e restabelecer a ordem. Mas esta marcha sobre Blumenau não alcançou o resultado e vitória calculada pelo Governo do Estado do tenente Machado.
A Câmara Municipal de Blumenau, tomando conhecimento daquele avanço do contingente estadual, imediatamente convocou todos os homens disponíveis, trabalhadores e colonos, equipando-os e armando-os. Esta tropa foi conduzida para a Rua Itajahi entre Blumenau e Gaspar onde entraram em posições defensivas, à espera do inimigo. Quando a tropa estadual se aproximou da linha de frente defensiva blumenauense, esta os recebeu com fortes tiroteios, obrigando-os a recuar. Após poucas horas os estaduais resolveram contra-atacar em três flancos, mesmo assim foram repelidos pela feroz defesa blumenauense, deixando no campo de luta dois mortos, nove feridos e dois prisioneiros.
O segundo combate travado no lugar denominado Testo Alto, em Pomerode, surgiu pela seguinte causa. No tempo do império existia no Brasil um Partido Conservador, um Liberal e um Republicano. O Partido Liberal tinha o governo nas mãos e o seu chefe, o Conselheiro de Estado Gaspar Silveira Martins, foi o último Presidente da então Província do Rio Grande do Sul.
Logo um dia após a Proclamação da República, quando ele se encontrava em Santa Catarina, ele foi preso e levado para a Europa. O Partido Republicano agora tomou conta do Governo enquanto os partidários dos outros dois partidos se retraíram e uniram-se para formar um novo partido de oposição.
O Rio Grande do Sul tornou-se um estado independente e deveria receber no ano de 1892 a sua própria Constituição. O governo republicano, que vinha sendo dirigido até então por governadores, tinha realizado um projeto com o qual os partidários da oposição neste meio tempo não estavam satisfeitos. Mesmo do Partido Republicano, alguns se desligaram e se uniram com a oposição, no Partido dos Federalistas. Os Republicanos tinham como seu chefe o enérgico Dr. Júlio de Castilho, o qual dirigia o governo como Governador e os Federalistas tinham como chefe o ex-conselheiro de Estado Gaspar Silveira Martins, o qual se encontrava nesta época em Montevidéu, Uruguai.

Quando agora deveriam ser realizadas as eleições para a Constituinte, a qual nada mais era do que uma reunião de delegados do povo, os quais tinham que consultar sobre a reunião, esperavam os Federalistas conseguir homens para o seu lado nesta reunião, para ganhar influência na formação da Constituição. Mas os Republicanos fizeram de tudo para excluir os seus adversários e fazer a Constituição conforme a sua vontade. Eles se consideravam os fundadores da Nova República e pretenderam instalar a mesma conforme seus princípios.
Irritados com o fracasso nas eleições, os federalistas decidiram uma revolução. Alguns de seus homens mais benquistos foram para Montevidéu a fim de conferenciar com Gaspar Silveira Martins. Martins já antes irritado com o seu desterro, tornou-se então o líder político da revolução, e o general Juca Tavares assumiu o comando geral da tropa revolucionária, a qual era formada no Uruguai e que tinha seu dirigente mais famoso Gumercindo Saraiva.

Em fevereiro de 1893 os revolucionários passaram as fronteiras e fizeram as primeiras invasões em Dom Pedrito e Santana do Livramento. O governo do Estado não pôde, no começo, defender-se o necessário, até que o governo federal deu o seu apoio. Os revolucionários, apesar da constante perseguição, avançaram cada vez mais para o norte. No começo de 1894, Gumercindo Saraiva surgiu com uma tropa até Santa Catarina e Paraná, mas pouco tempo depois recuou, porque o governo federal e também o Paraná resistiram fortemente e ameaçavam suas tropas de todos os lados. Quando um outro inimigo chegou para ameaçar a tropa: fome e falta de equipamentos, principalmente roupa, Saraiva propôs entrar com uma parte da tropa no Vale do Itajahi com a esperança de ali encontrar provisão abundante e tudo que fosse útil para os seus soldados e continuar o recuo pelo litoral.
A notícia dessa invasão planejada no Vale do Itajahi veio muito cedo a Blumenau e imediatamente foi de novo, como no ano anterior, formada e equipada uma tropa de defesa pela Câmara Municipal, a qual passou a ser comandada por Gottlieb Reif. Esta Tropa marchou o Vale do Itajahi acima, passando por Pomerode em direção a Testo Alto, porque ali encontrava-se a única ligação pelo norte de Santa Catarina pelo Morro da Luz.
Também em Pomerode uniram-se à tropa inúmeros homens em condições de lutar para fortalecer a defesa. Muitos destes homens conheciam a arte da guerra porque tinham tomado parte da Guerra Franco-Prussiana nos anos de 1870-71.
Quando chegaram no destino, logo foram formados dois pequenos grupos de três homens cada para transpor o morro e patrulhar o vale de Jaraguá. Quando o comandante Reif tinha achado sua linha de combate, foram logo sendo construídos acampamentos de defesa de todos os tipos, assim como foi feito uma grande trincheira, para que os homens pudessem proteger-se do inimigo, caso houvesse alguma luta. Todos os tipos de medidas foram tomadas. No topo do morro foi instalado um posto avançado, o qual tinha como função, juntamente com os dois grupos, de encontrar os adversários federalistas e descrevê-los quanto ao número e equipamento.
No terceiro dia voltaram os patrulheiros e observadores com a sua missão cumprida e importantes informações: de que na entrada da Estrada da Luz, observaram o acampamento dos Federalistas, distante mais ou menos 15 ou 20 quilômetros.

O comandante logo ordenou prontidão para toda a tropa. No quarto dia à tarde, os Federalistas alcançaram o topo do Morro, iniciando assim a invasão do Vale do Itajahi. Quando notaram o acampamento de defesa e a trincheira construída nova, e que bem sabiam o que representava aquilo, entraram logo em posição de ataque protegendo-se pelo mato, começando um forte tiroteio. Por motivo do intenso fogo, muitos homens da tropa de defesa, aproveitando a oportunidade, desertaram do campo de combate, mas a maioria dos defensores resistiu ao ataque inimigo, abrindo fortíssimo fogo com todos os tipos de armas, inclusive as que seriam alimentadas pela boca. Por não conseguir romper a linha de defesa, os federalistas resolveram abandonar o ataque retornando para o norte do estado com três homens aprisionados que foram soltos em Jaraguá e já no dia seguinte estavam de volta, unindo-se à sua tropa e seu comandante Reif.
Todos os moradores com suas famílias retiraram-se para lugares mais distantes com medo se por acaso a tropa de defesa não resistisse ao ataque federalista. Resta saber poucos nomes de homens que tomaram parte no combate, podendo-se citar: Rudolf Fischer, Wilhem Klitzke, Gottlieb Butzke Jürgen Rad, Albert Ramlow, Wilhelm Riemer, August Hackbarth, Hans Emke, August Struck, Hermann Weege, Hermann Konell, August Konell e Franz Klitzke.

A manutenção da tropa de defesa com víveres e munição foi assumida pela Câmara Muncipal em conjunto com a Casa Comercial de Luiz Abry e seu matadouro, enquanto o transporte foi feito por Hermann Weege, o ferreiro, filho mais velho de Friedrich Weege.
Há poucos anos atrás, os filhos de Helmuth Utpadel cavando o solo em busca de pedras para os seus estilingues e bodoques, acharam balas de fuzis disparadas no combate. A propriedade dos Utpadel era o principal alvo dos Federalistas porque ali estava instalada a linha de defesa.

A tropa Federalista que se deslocava do Paraná e norte Catarinense, onde travaram combates na Lapa, em que veio a falecer o General Republicano Ernesto Gomes Carneiro, travou outros combates em Mafra, Rio Negrinho e São Bento contra as tropas republicanas sob o comando do general Pinheiro Machado, marchando com com destino a Joinville, a fim de atacar a cidade de Blumenau pelo norte, porque seus aliados estavam sendo rechaçados e derrotados pela tropa de defesa blumenauense republicana na Rua Itajahi.
Aquela tropa revolucionária Federalista estava composta por 300 homens, entre soldados, graduados e oficiais sob o comando supremo do General Gumercindo Saraiva, seus irmãos Generais Cesário e Aparício Saraiva mais os Generais Jacques Ouriques e Torquato Severo, o Coronel Laurentino Pinto da Silva, o oficial ajudante de ordens Gabriel Lucas da Costa, todos naturais de Arroio e Bajé, no Rio Grande do Sul.
Gumercindo Saraiva designou uma tropa sob o comando do General Jacques Ouriques para avançar até a Barra do Rio Cerro com Rio da Luz, aguardando a retirada da tropa aliada de Jonville, como reforço com o plano da invasão de Blumenau através do Morro da Luz que na época já oferecia passagem a pé e a cavalo. Esta invasão planejada pelos Federalistas não foi conseguida, devido às fortificações construídas no Testo Alto e no Morro da Luz, e a valente defesa que lhes ofereceu a tropa republicana blumenauense.
Este contato de tiroteio aconteceu durante a semana de Natal do ano de 1893, os revolucionários Federalistas tomaram a Colônia de Jaraguá no dia 13 de Dezembro do mesmo ano, sem nenhuma defesa oferecida e a abandonaram no dia 28 do mesmo mês com destino ao planalto.

Nos primeiros dias do mês de março do ano de 1894 atacaram a cidade da Lapa, no dia 9 do mesmo mês entraram em combate violento e decisivo com a tropa de defesa Republicana sob o comando do general Pinheiro Machado, batalha desastrosa para a causa revolucionária que causou o fim da revolução Federalista, retirando-se, o General Gumercindo Saraiva com sua tropa definitivamente para o Rio Grande do Sul.
No começo do ano de 1894 o governo Republicano enviou ao Rio Grande do Sul o General Galvão de Queirós como mediador da causa da paz, obtendo um acordo com os revolucionários que foi assinado em Pelotas no dia 23 de Agosto do mesmo ano pelos generais Galvão de Queirós e Silva Tavares, permanecendo os revolucionários com todos os direitos cívicos e vivier em plena paz com obrigação de entregar ao governo Republicano todo o seu material, animais e armamentos. No dia 28 de Agosto do mesmo ano foi realizado em Porto Alegre uma brilhante solenidade de paz, tomando parte no desfile, com bastante reputação, todas as tropas militares que voltaram, abandonando o campo de luta, nas ruas embandeiradas e ao som de bandas de música.

Os dois lados políticos, tanto o Federalista como o Republicano acharam adeptos em todos os lugares, e devido isso as colônias e vilas se infestaram de espiões de ambos os lados, para colher informações sobre a situação ou acontecimento político, porque naquela época era o meio mais adequado para ter comunicação. Por exemplo: Quando os federalistas se retiraram de Blumenau com destino a São Francisco e Joinville via Itajahi, imediatamente foram enviados para aquelas cidades dois mensageiros (espiões) com a respectiva notícia. Os espiões do vale do Itajahi estavam sendo controlados e orientados por Emil Baumgarten e Luiz Abry.
A Revolução Federalista deixou duas infelizes vítimas na Colônia de Jaraguá: a primeira foi Frederico Negherborn, tirolês e morador em Rio dos Cedros e que veio a Jaraguá onde tinha comprado, tempos antes, uma gleba de terra. Foi denunciado ao General Torquato Severo por um agente de polícia como espião, sendo preso e degolado por ordem de Gumercindo Saraiva no dia 16 de Dezembro de 1893. A segunda vítima foi Albert Schulz que emigrou para Blumenau no ano de 1874. No ano de 1892 mudou-se com sua família para Rio da Luz onde tinha adquirido um lote de terra, indo de vez em quando para Blumenau para trabalhar em empreitadas a fim de conseguir o dinheiro das prestações do terreno comprado. Durante o movimento revolucionário de Blumenau, Schulz tomou parte ao lado dos republicanos, por ocasião de um conflito entre os dois partidos, saiu ferido, com um tiro, um cabo federalista. As suspeitas dos revolucionários recaíram sobre Albert Schulz e os agentes de espionagem entraram logo em ação, sabendo que era morador do Rio da Luz. Tão logo informaram seu chefe, o General Gumercindo Saraiva, este ordenou prisão tão logo chegasse em casa. Como era semana de Natal tinham certeza que Schulz passaria aqueles dias com sua família. Altas horas da noite chegou em casa e já no dia seguinte vieram soldados Federalistas, orientados por um polonês para prendê-lo. Schulz correu em direção à mata mas não conseguiu. Foi preso e apresentado ao chefe na Barra do Rio Cerro. Este ordenou a morte. Albert Schulz foi então amarrado em uma árvore com um laço para prender animais. Isto aconteceu próximo à Fábrica Malwee, bifurcação para Pomerode, sendo degolado e seu corpo queimado no mesmo local no dia 26 de dezembro de 1893.
Notícias e comentários em relação à execução foram contraditórios. Albert Schulz teria sido morto inocentemente, pois o tiro disparado contra o cabo Federalista foi de um moço de nome Franz Hass. De fato a pessoa em questão abandonou a sua morada em Blumenau refugiando-se em casa de amigos e parentes em Testo Alto e Testo Central Alto.

Franz Hass tornou-se um elemento muito conhecido em Pomerode por entender de uma arte que se tornou grande novidade em Pomerode: sabia trançar e entralhar redes de pesca de arrastão tipo funil que colhia muito peixe.
A construção das trincheiras e meios de defesa e proteção no Testo Alto e Morro da Luz foram planejadas e dirigidas pelos senhores Fritz von Okel, Heinrich Marquart e Peter Christian Feddersen, sob o comando geral de Gottlieb Reif. Foram construídos abrigos, posições de para-peito junto à trincheira para poder observar o avanço do inimigo, a trincheira construída em uma parte em linhas sinuosas e uma em baluarte, uma obra de defesa muito séria e severa.
Quando estava tudo pronto e minuciosamente organizado, aguardano o ataque dos federalistas, Peter Christian Feddersen fez um apelo aos combatentes: Se por uma eventualidade, o inimigo estiver com armamentos mais modernos e contingente superior, vocês não estão obrigados a lutar até a última gota de sangue, mas sim recuar, e nós enviaremos um reforço maior de Blumenau para enfrentar os Federalistas. Ao que respondeu, inconformado, o combatente Christian Schlüter: – Se não conseguirmos resistir a luta, você não precisa mandar-nos fugir; nós o faremos sozinhos.

Tão logo os Federalistas tomaram a Colônia Jaraguá, os Republicanos Blumenauenses resolveram enviar a Jaraguá, espiões para avaliar a causa Federalista. Para tal compromisso foram designados os senhores Emil Baumgarten e Luiz Abry de Blumenau, mais Albert Ramlow de Pomerode. Quando visitaram a casa de um amigo de nome Paul Krämer, que morava na altura do atual curtume Arnaldo Schmitt, este os advertiu no sentido de regressarem a Blumenau imediatamente, pois caso fossem vistos pelos Federalistas ou seus adeptos, seriam fatalmente presos e mortos. Vale ressaltar ainda que, Paul Krämer mudou-se mais tarde para Porto Alegre onde fundou o Laboratório Krämer.
Outros meios de defesa foram organizados no topo do Moro da Luz, bem como, construída mais uma trincheira de menor tamanho com pedras enormes e troncos de árvore servindo os mesmos como abrigos individuais sendo também um posto avançado para observações e vigias do Vale do Rio da Luz em direção a Jaraguá controlando desta forma o movimento de destacamentos inimigos.
Em 24 de dezembro de 1893 uma Patrulha Federalista avançou em direção ao Morro da Luz sem, no entanto, ter conhecimento das posições de defesa. O primeiro, ou melhor, o observador de frente era Albert Krüger. Sua proteção era uma pedra e ao descobrir os Federalistas, permitiu-lhes o avanço até o ponto em que, acionado o seu fuzil pudesse atingí-los. Disparado mesmo contra o chefe do grupo, abateu o mesmo, fazendo assim recuar todo o grupo. A ocorrência foi levada ao comandante Gottlieb Reif e o fato fê-lo previnir-se, tomando então medidas de segurança contra um possível ataque em massa dos Federalistas. Por essa razão, Reif ordenou a retirada de todos os moradores para lugares mais distantes e seguros.
Assim contava Bertha Oestreich, casada com Albert Borchardt na Rega Alta: – Eu conduzi os filhos dos Ramlow e dos Riemer até à casa da família Schaade na Rega 3 (Tontiefe) em Pomerode. Naquele ano não tivemos Natal. Tudo era pânico.

Não se sabe bem porque motivo Gumercindo saraiva abandonou seu plano de invasão ao Vale do Itajaí. Resolveu marchar em direção ao Paraná, na região da Lapa onde deparou com um grande contingente do exército Republicano, muito bem armado. Foram travadas lutas sangrentas com muitas baixas de ambos os lados. Também caiu nessa luta, o general Republicano Ernesto Gomes Carneiro.
Derrotados os Federalistas entregaram as armas e fizeram um acordo de paz.
Com relação a Albert Krüger, o mesmo era mestre oleiro e residente no bairro da Fortaleza em Blumenau. Veio com a tropa de defesa de Blumenau para o Testo Alto (Pomerode) a fim de impedir a invasão. Em 1935, Albert Krüger veio para Pomerode a pedido de Wilhelm Lindemann como mestre-oleiro, encarregando-se de transmitir seus conhecimentos, embora já contasse 77 anos de idade. Ensinou aos oleiros como escolher e preparar a argila e o barro para a confecção de telhas e tijolos, bem como a secagem e queima dos mesmos no forno.

Como na época ainda muitos ex-combatentes dessa revolução eram vivos, a causa Federalista era muito comentada e discutida. Krüger, por sua vez, foi apelidado pelos conhecidos como o “matador de federalistas”, fato que ele mesmo confirmava com certo orgulho.

Relatos de História compilados pelo Conselheiro Udo Ramlow
Resumo feito por Irineu Voigtlaender

Esta foi a visão que os federalistas tiveram ao se aproximar pela estrada do Rio da Luz